Confira abaixo:
A tilápia, presença constante no prato dos brasileiros, voltou ao centro de uma polêmica que envolve economia, meio ambiente e segurança alimentar. Uma minuta da Comissão Nacional de Biodiversidade (Conabio), ligada ao Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), sugere a possível inclusão da espécie na Lista Nacional de Espécies Exóticas Invasoras.
Embora ainda não haja decisão final, a simples discussão gerou alerta entre produtores, governos estaduais e especialistas. O setor teme que medidas mal definidas possam comprometer licenciamento ambiental, exportações e empregos em regiões onde a piscicultura é estratégica, como Mato Grosso do Sul.
A tilápia está na mira, porque espécies exóticas invasoras são aquelas introduzidas fora de sua área natural, capazes de se espalhar e causar impactos negativos à biodiversidade. No Brasil, a tilápia é cultivada principalmente em viveiros controlados, mas escapamentos ocasionais em rios e represas já foram registrados, o que preocupa ambientalistas.
“O objetivo é proteger ecossistemas sem prejudicar a produção sustentável”, diz nota do MMA, ressaltando que nenhuma proibição imediata está prevista e que o debate envolve diferentes ministérios e o setor produtivo.
A tilápia responde por mais de 60% da produção de peixes de cultivo no país.
Junto com tambaqui, pacu, pirarucu, camarão-marinho, ostra do Pacífico e macroalga Kappaphycus alvarezii, essas espécies representam cerca de 90% da piscicultura nacional, com valor estimado em R$9,6 bilhões segundo dados do IBGE.
“Essas espécies são pilares da produção aquícola, garantindo renda, empregos e segurança alimentar para o país”, afirma o Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA).
No estado de Mato Grosso do Sul, a cadeia produtiva é crescente. Entre janeiro e fevereiro de 2025, foram exportadas 1.325 toneladas de filé e derivados de tilápia.
Produtores e autoridades locais temem que a inclusão da espécie na lista inviabilize investimentos, gere insegurança jurídica e comprometa o comércio externo.
Especialistas alertam que a tilápia pode alterar a dinâmica de ecossistemas aquáticos, competindo com espécies nativas e modificando habitats. O risco é maior em áreas de preservação e Unidades de Conservação Federais.
No entanto, experiências internacionais indicam que viveiros controlados, monitoramento genético, barreiras físicas e tecnologias de recirculação de água reduzem os impactos ambientais sem prejudicar a produção comercial.
O MMA mantém instrumentos de gestão, como a Estratégia Nacional para Espécies Exóticas Invasoras e o Programa Nacional de Alerta, Detecção Precoce e Resposta Rápida (PNADPRR).
O desafio agora é criar regras claras que combinem conservação da biodiversidade e viabilidade econômica, garantindo segurança para produtores e proteção para ecossistemas.
Por enquanto, a Conabio continua avaliando a proposta, sem cronograma definido. O governo federal reforça que nenhuma decisão será tomada sem ampla discussão pública e análise técnica.
A polêmica mostra que, no Brasil, a produção sustentável de alimentos não depende apenas de tecnologia e mercado, mas de um delicado equilíbrio entre desenvolvimento econômico, preservação ambiental e políticas públicas claras.
Por Juliana Scudeler Salto